Entre os inúmeros mistérios do Sistema Solar, um dos mais fascinantes está em Saturno. No polo norte do planeta gasoso, astrônomos observam há décadas uma formação atmosférica singular: uma corrente de nuvens que assume a forma perfeita de um hexágono gigante, com cerca de 30 mil quilômetros de diâmetro — o equivalente a duas vezes o tamanho da Terra.
O fenômeno foi registrado pela primeira vez pela sonda Voyager 1, em 1981, e posteriormente confirmado pela Voyager 2 e, anos depois, com detalhes inéditos pela missão Cassini da NASA. Desde então, o chamado “hexágono de Saturno” permanece como um dos maiores enigmas da meteorologia planetária.
A estrutura é formada por uma corrente de jatos atmosféricos que circula o polo norte, atingindo velocidades superiores a 500 km/h. Diferente dos padrões climáticos circulares comuns em planetas gigantes, como Júpiter, a formação de Saturno se mantém com bordas geométricas quase perfeitas — algo jamais visto em outro planeta do Sistema Solar.

Pesquisadores sugerem que o formato pode ser resultado de instabilidades em fluidos em rotação, semelhantes a correntes observadas em laboratórios quando líquidos giram em recipientes cilíndricos. No entanto, a escala e a estabilidade do hexágono, que já dura mais de quatro décadas, continuam sem explicação definitiva.
Imagens obtidas pela Cassini também revelaram que o hexágono apresenta variações de cor ao longo das estações de Saturno, passando de tons azulados para dourados, possivelmente devido a mudanças na composição química da atmosfera e na incidência da luz solar durante a órbita de 29 anos do planeta.
Apesar dos avanços, os cientistas ainda não sabem por que a formação se mantém estável por tanto tempo, nem se fenômenos semelhantes poderiam surgir em outras condições planetárias. Para muitos, o hexágono de Saturno é um “laboratório natural”, capaz de revelar novos segredos sobre a dinâmica atmosférica de mundos gasosos.
O enigma permanece aberto: por que a atmosfera de Saturno esculpiu uma forma geométrica tão precisa — e como ela consegue resistir por tanto tempo em meio às forças colossais que dominam o planeta?